Como pode o Cluster do Calçado abraçar a Sustentabilidade e a Economia Circular?
As empresas de calçado serão beneficiadas se optarem por afastar-se do modelo económico linear, baseado em “extrair, transformar, consumir e descartar” os recursos do planeta, partindo do pressuposto de que são abundantes e fáceis de obter. E, em alternativa, escolherem um modelo sustentado baseado na bioeconomia circular, no qual as fronteiras ambientais do planeta são respeitadas pela maximização do uso e regeneração dos recursos. O modelo circular envolve o aumento do uso de recursos renováveis ou recicláveis, a redução do consumo de matérias-primas e energia e, ao mesmo tempo, a diminuição das emissões e perdas de materiais, e a conservação e regeneração dos recursos no ciclo de vida, contribuindo para a neutralidade carbónica e o combate às alterações climáticas.
No contexto da Economia Circular Sustentável é importante o Cluster do Calçado considerar aspetos como o ecodesin, a adequada seleção de materiais e componentes, a produção ecológica e a regeneração dos resíduos de produção e calçado usado.
O Ecodesign, porque é nesta fase que o impacte ambiental do produto é definido. Assim, é fundamental estimar a pegada ambiental do produto e promover abordagens de design para:
1. A durabilidade, assegurando a qualidade dos materiais e produtos pela aplicação de normativos e especificações internacionais.
2. A intemporalidade e moda, concebendo produtos belos, de moda, apelativos, que utilizaremos muito.
3. A ausência de substâncias químicas críticas para os trabalhadores de toda a cadeia de valor, desde a produção das matérias-primas até ao acabamento do calçado, e para os consumidores e o planeta.
4. A função e conforto, garantindo que o calçado se adequada ao utilizador e ao uso, por exemplo calçado para diabéticos, para caminhadas ou trabalho, embebendo conforto térmico e amortecimento de impactos, entre outros, visando promover o bem-estar do utilizador e maximizar o tempo de utilização do calçado.
5. A leveza e minimização de materiais, potenciando a sustentabilidade global e a reciclagem.
6. A reparação que poderá ser realizada pelo consumidor ou prestadores de serviços.
7. A reutilização e solidariedade, aplicando novos modelos de negócio ou oferecendo produtos em ótimo estado.
8. A reciclagem incluindo a biodegradabilidade, compostagem, desassemblagem, produção de novos materiais, etc.
9. A customização estética e personalização ,nomeadamente em termos de cores, padrões ou palmilhas.
10. A produção sustentável, incluindo modelos e conceitos de produção que potenciam a produção ágil e eficiente.
Uma adequada seleção de materiais e componentes, pois podem facilmente representar mais de 50% a 70% da pegada ambiental do produto. Assim é importante optar por materiais:
1. De base biológica, naturais e/ou renováveis.
2. Reciclados.
3. Recicláveis.
4. Ultraleves e duráveis.
5. Com baixa pegada ambiental.
6. Resultantes de produção local, que assegure o bem-estar das espécies em equilíbrio com o meio ambiente.
7. Rastreáveis desde a origem até ao final da produção.
A produção ecológica assume um papel importante. Sugere-se a adoção de algumas medidas, incluindo:
1. A digitalização de processos e a produção de amostras digitais minimizando as produzidas, para apresentação em feiras, ou a clientes e agentes.
2. A eliminação / minimização de substâncias químicas potencialmente cancerígenas, tóxicas e/ou com impacte ambiental negativo.
3. A redução dos resíduos de produção, aplicando bons princípios de design, aquisição de matérias-primas com a qualidade adequada, otimização do corte, não mistura de resíduos recicláveis, entre outros.
4. A redução das operações de fabrico de costura e montagem e o ajustamento dos processos e dos tempos de produção com base em análise expeditas de tempos e métodos.
5. A adoção de processos, medidas e sistemas produtivos económicos e ágeis que facilitem a produção de qualidade e evitem re-trabalhos.
6. A utilização de energias renováveis e a redução do consumo de energia através do aumento da eficiência dos principais processos consumidores de energia elétrica ( p. ex., compressor, fornos, sistemas de geração de calor ou frio).
7. A adoção de sistemas de produção que facilitem o made-to-order e a customização para satisfazer encomendas no retalho e no on-line.
Por último, a regeneração dos resíduos de produção e de calçado utilizado representam uma oportunidade de ouro para a colaboração intersetorial no cluster do calçado com outros cluster, salientando-se:
1. A produção de couros com materiais de origem biológica.
2. A reciclagem de materiais termoplásticos para obtenção de produtos de elevada qualidade.
3. A reciclagem de couro e materiais de gáspeas, solas e calçado em borracha para calçado.
4. A reciclagem de calçado pós-consumo em calçado novo.
5. A reciclagem de calçado pós-consumo em produtos para aplicações de mobiliário e construção.
6. A produção de palmilhas e solas incorporando cortiça e fibras e borracha natural.
7. A reciclagem de EVA, PU, cortiça e outros, para fabrico de compósitos para calçado e outras aplicações.
Para mais informações contacte-nos.
Este artigo foi escrito no âmbito do projeto kit4foot, cofinanciado pelo FITEC, Programa Interface.
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